Ora, as áreas de maior contacto entre o organismo humano e o meio exterior são a pele, os orifícios (ouvidos, olhos, nariz, boca), o trato génito-urinário, o aparelho respiratório e, sobretudo, o intestino.
Por conseguinte, é fácil compreender que, enquanto a nossa grande “muralha” intestinal estiver permanentemente a ser “atacada” e a sua integridade seriamente comprometida, todos os macrófagos, linfócitos T e B (produtores de imunoglobulinas A), células dendríticas e praticamente todos os “soldados” que compõem a imunidade inata e adquirida do nosso organismo vão estar instalados na área abdominal com o propósito de travar a invasão inimiga, deixando desprotegidas outras áreas sensíveis do corpo humano.
As nossas defesas, ao resguardarem o intestino, irão acentuar as vulnerabilidades da área ORL. Surgem as rinites, sinusites, otites, amigdalites, etc.
A asma, urticária e eczemas são outros exemplos de reações de hipersensibilidade decorrentes de desequilíbrios imunológicos (e inflamatórios). Quando conseguimos regenerar a “barreira” do trato digestivo, também observamos melhorias assinaláveis nestas enfermidades.
É fácil, então, concluir que, para estarmos completamente saudáveis, é fundamental, acima de tudo, mantermos a integridade da parede intestinal.
Para tal, devemos evitar, em primeira instância, a ingestão errónea de alimentos desencadeadores de intolerâncias ou alergias.
E… quais são esses alimentos, afinal?
É sempre discutível, variando, subjetivamente, de pessoa para pessoa.
Há, contudo, determinados grupos de alimentos que podemos sentir-nos tentados a apontar como potenciais causadores de inflamação intestinal (mesmo subclínica) e, por consequência, de porosidade anómala ou leaky gut: os cereais (especialmente os contendo glúten), o leite de vaca, contendo a lactose e a β-caseína A1, as leguminosas e alguns frutos secos, contendo antinutrientes, as solaninas (batata, tomate, pimento, beringela), os alimentos ricos ou libertadores de histamina (peixes, frutos do mar e queijos envelhecidos) e certas frutas e legumes ricos em açúcares altamente fermentáveis.
Em bom rigor, todos temos a capacidade intrínseca de “sentir” quais os alimentos que não nos são benéficos. Basta optarmos por não ignorar os sinais que o nosso corpo nos vai enviando…
Depois há a flora bacteriana intestinal…
Da nossa mãe herdamos incontáveis estirpes microbiológicas que nos vão acompanhando desde a nascença. O parto natural e a amamentação providenciam uma linha de defesa única e competente. Ao longo da vida, um estilo de vida stressante e um uso continuado de alimentos processados e medicamentos, especialmente antibióticos, podem desferir um golpe letal nesta primeira barreira. Urge, pois, uma higiene emocional, social e alimentar apropriada em todas as etapas da vida.
Não obstante, sempre que há necessidade de ajustar a integridade da nossa barreira intestinal e, subsequentemente, da eficácia do nosso sistema imune, podemos recorrer à ingestão regular de alimentos pré-bióticos e probióticos.
Como pré-bióticos recomendo as fibras curtas da linhaça (recém-moída) e o mirtilo.
Como probióticos recomendo as inúmeras estirpes de lactobacillus, bifidobacterium e saccharomyces encontradas naturalmente nos preparados caseiros de kefir, kefir de água, viili, iogurte, kombucha, chucrute, pickles, etc.
Convém ressalvar que o iogurte, o mais famigerado e disseminado probiótico, contém somente duas estirpes - o Lactobacillus d. bulgaricus e o Streptococcus thermophilus. Quando fermentado domesticamente, será sempre uma excelente alternativa ao leite processado pois transforma a lactose e outros constituintes em compostos mais nutritivos e menos intolerantes. No entanto, os iogurtes comerciais são por vezes adulterados com gelatinas e amidos, desvirtuando a habitual capacidade probiótica.
É vantajoso consumir, por conseguinte, outros probióticos caseiros com maior variedade de estirpes benéficas como o kefir, se possível.
Mas se quisermos enveredar por outras alternativas económicas, podemos optar, inicialmente, por confecionar chucrute caseiro, por exemplo.